Chaves para a Mudança



Tom CondonOitos podem ser motivados à mudança por uma variedade de razões, entre elas: tédio, um desejo de ajudar outras pessoas, um choque de reconhecimento quando o mundo exterior reflete sua vulnerabilidade interior, prestação de contas aos demais, quando os outros ameaçam deixá-los, e ao sentir vergonha em relação ao próprio comportamento, especialmente quando causam dano àqueles que se propuseram a proteger.

Alguns Oitos mudam para reagir à perda de controle. Uma Oito reporta ter parado de fumar por causa do número de áreas não fumantes que gradualmente apareceram em seu mundo. Aquilo a fez sentir-se controlada e impotente, e ela não quis permitir que nada ou ninguém tivesse este nível de poder sobre ela. Outro Oito parou de fumar simplesmente olhando para cada cigarro e se perguntando: “Quem é mais forte, você ou eu?”.

Um terceiro Oito, que havia sido membro de um grupo neonazista, teve uma epifania súbita quando escutou seu filho de três anos de idade usando linguagem racista. “Aquilo me atingiu como uma tonelada de tijolos. Eu sabia que o estava arrastando para um caminho no qual ele terminaria na cadeia, ou sendo relembrado por algo horrível que fizesse. De repente, eu não queria mais que ele fosse como eu”.

Enquanto alguns Oitos são imunes ao embaraço social, outros são surpreendentemente sensíveis a ele. Um Oito parou de beber álcool e começou a descartar seu exterior de cara durão quando foi preso por dirigir bêbado. Ele foi particularmente atingido pelas palavras ríspidas de uma mulher, que lhe perguntou como ele se sentiria se seu filho tivesse sido morto por um motorista bêbado que estivesse “arando” as redondezas a 120 km/h. “Comecei a chorar”, o Oito acrescenta. “Eu já havia conquistado tantas coisas em minha vida, e agora a estava destruindo completamente. Estava envergonhando minha família e meus amigos. Então disse para mim mesmo, ‘Já basta. Acorde e cresça’ “.

Problemas apresentados para terapeutas e conselheiros podem incluir: conflitos nos relacionamentos, problemas médicos (em especial ataques cardíacos), vícios, arrependimento com comportamentos passados, ataques de ansiedade, depressão sem uma fonte óbvia ou gerada por uma condição médica. Clientes do tipo Oito podem também querer cessar conflitos em relacionamentos amorosos, ou podem estar buscando perícias sociais e de gerenciamento da raiva.

Boas metas gerais para mudança são: trabalhar com a vulnerabilidade; encontrar novas definições de força; aprender a empatizar com os outros; tornar-se mais sensível ao impacto que gera nos demais; enxergar os outros de modo tridimensional; admitir que não é tão durão assim – que pode ser ferido ou magoado; e aprender como nutrir a si próprio.

O desafio essencial para os Oitos é aprender a construir um relacionamento diferente com a própria vulnerabilidade, descobrir se de fato é realmente necessário continuar a manter tal vigilância para proteger seus pontos frágeis. Existe uma força profunda na gentileza e nas expressões de amor; é um tipo de força diferente daquela que o faz mobilizar-se e entrincheirar-se defensivamente contra o mundo. O filósofo Arthur Schopenhauer uma vez disse: “A maturidade significa aprender a apoiar-se em suas falhas”. Para os Oitos, a força significa aprender a apoiar-se em sua fraqueza.

Alguém que necessita dominar os demais é dependente destas mesmas pessoas; a dominação é uma forma agressiva de dependência. Se você for capaz de fazer um Oito perceber que agir contra os outros significa que na realidade ele está sendo controlado por eles, o Oito geralmente desistirá de fazê-lo.

Oitos possuem uma espécie de inocência e curiosidade que os leva a descobrir o mundo ao invés de dominá-lo. Eles podem ter amores subdesenvolvidos – com relação à natureza, aos animais, a crianças, a viagens, etc.. Estes devem ser encorajados e apoiados.

Terapeutas e conselheiros que trabalham com clientes do tipo Oito podem precisar inicialmente emparelhar com seus aconselhados, concordando com suas teses unilaterais a respeito do mundo, ou aliando-se a eles para combater as forças externas contra as quais os Oitos estão se rebelando. Mais tarde, porém, você pode apresentar contraexemplos e – se necessário – assumir um tom igualmente duro e dizer a eles a verdade. Supere-os algumas vezes, mas não se gabe a respeito. Demonstre como é ser durão e em seguida, gentil, sendo rígido em um momento e não precisando sê-lo em outro.

Quando você trabalha com Oitos, é proveitoso acessar o que quer que exista de mais seguro e confiante dentro de você, e então falar de modo neutro. Alguns Oitos insistirão que você lhes diga a verdade nua e crua, mas ainda assim você pode precisar protegê-los algumas vezes, ou contar-lhes a verdade de maneira gradual. Frequentemente é efetivo combinar humor com respeito e firmeza. Você deve evitar parecer efusivo, bem intencionado ou excessivamente empático; eles podem julgá-lo fraco. Deixe claro que você pode cuidar de si mesmo, mas que não precisa vestir luvas de boxeador o tempo inteiro – e portanto, o Oito também não precisa. Você também poderia evitar apresentar uma ética terapeuticamente correta, ou apresentar um modelo de saúde mental logo de imediato – mas mesmo que se rebelem, eles podem precisar de (e apreciar) uma moldura psicológica para o entendimento de seus problemas e comportamento. Você terá ainda que ser firme com eles para que saibam que você não é tolo. Quando estiverem debaixo de stress, Oitos transformarão seus terapeutas em cartoons.

Com um cliente Oito extremado, você pode ter que ser mais duro no começo, adotando de início uma atitude similar à dele; um tom de voz semelhante, uma qualidade de energia parecida, uma postura que combine com a agressão do Oito. Depois de acompanhá-lo por algum tempo, finalmente poderá alterar suas maneiras, tornando-se gradativamente mais suave. Neste estágio, se você tiver desenvolvido uma conexão suficiente com o Oito, ele irá segui-lo. Caso aconteça o contrário, volte a imitá-lo. Uma vez que os Oitos externalizam seus sentimentos e vivem principalmente no presente, você pode precisar trabalhar a ligação entre o comportamento externo deles e suas vidas internas, a relação entre suas reações atuais e aquilo que lhes aconteceu na infância. Não reconhecer a infância é a mesma coisa que não reconhecer a criança interior, ou seja, a própria vulnerabilidade.

Pelo fato de externalizarem, Oitos algumas vezes confundirão uma mudança comportamental externa com transformação interior. Embora dominar um vício ou um mau hábito possa ser algo louvável, é apenas outro exemplo de excessiva simplificação e externalização de seus problemas interiores.

Se você puder se permitir ser gentil com um Oito, sem esperar nada em troca, será surpreendente desarmador – e o impactará profundamente. A gentileza gratuita é uma contradição completa da visão de mundo “matar ou ser morto” que eles alimentam; é um comportamento ilógico do ponto de vista “da selva”. Mas você precisa se doar livremente, sem condescendência ou segundas intenções. De outra forma, o Oito poderá reenquadrar cinicamente o seu comportamento, percebendo-o como mais um desdobramento da lei da selva, uma tentativa disfarçada de obter controle.